Quando se fala em campanhas eleitorais, algo que sempre nos vem à cabeça é o jingle político. As músicas, muitas vezes paródias de sucessos do momento, servem para engajar os eleitores com o candidato e também podem ser úteis para ajudar a gravar o número que deve ser votado no dia das eleições, por exemplo.
Pensando nisso, elaboramos este post para que você saiba como utilizar essa importante ferramenta do marketing político em prol da sua campanha nas próximas eleições. Continue a leitura e tire suas dúvidas sobre o assunto!
O que é um jingle político?
O conceito de jingle vem dos estudos da publicidade e serve para caracterizar uma mensagem musicada, de curta duração e com um refrão simples e fácil de ser guardado pelas pessoas que a ouvem. No meio empresarial, o uso dessa estratégia é muito explorado, principalmente, por lojas de departamento e outros tipos que utilizam a mídia televisiva ou radiofônica para transmitir os seus comerciais.
Já há algum tempo, essa estratégia promocional das empresas foi adaptada para o campo político, com o surgimento dos jingles de candidatos a cargos eletivos, que podem ser veiculados no horário eleitoral gratuito de rádio e TV, em vídeos nas redes sociais, nas ruas por meio de carros de som, e até mesmo para sonorizar o comitê do partido.
Como é o processo de gravação de um jingle?
Para gravar um jingle, é necessário contratar um cantor ou banda, bem como um estúdio de gravação que preste esse tipo de serviço. De forma geral, os estúdios desenvolvem primeiramente a parte instrumental da canção, que pode ser totalmente inédita ou embasada em uma mixagem de uma música já conhecida do público. Para isso, são utilizados instrumentos como violão, guitarra, teclado, contrabaixo, entre outros.
Após essa etapa, o cantor grava a voz em estúdio e os profissionais do local fazem a junção do som instrumental com a voz. Depois, é só executar o áudio em qualquer local que você quiser.
Posso usar paródias de músicas famosas como jingle?
Esse assunto é bastante debatido entre os especialistas em marketing político e gera controvérsias. De acordo com a Lei de Direitos Autorais, no artigo 47, as paródias não geram nenhum tipo de punição por violação de direitos, uma vez que não são “verdadeiras reproduções da obra originária nem lhe implicam descrédito”.
Isso quer dizer que, por lei, qualquer pessoa pode fazer a paródia de uma música de um artista conhecido, sem que, para isso, tenha que pagar ou pedir cedência de direitos autorais.
Mesmo assim, alguns profissionais alertam para brechas que os advogados podem encontrar na lei, o que pode resultar em perdas judiciais para o candidato, caso haja um processo. Por esse motivo, eles recomendam o uso de músicas 100% originais.
De qualquer maneira, cabe a você e à sua equipe discutir sobre esse assunto para a sua próxima campanha. Consultar o setor jurídico do partido para saber se existe um posicionamento oficial sobre o assunto também pode ser uma boa ideia.
O que não pode faltar em um jingle eleitoral?
Existem alguns elementos que não podem, de maneira alguma, ficar de fora de um jingle político-eleitoral. O principal deles é o nome do candidato e o número que deverá ser votado nas urnas, de modo que a sequência permaneça gravada na mente das pessoas.
Utilizar o bom humor, uma letra amigável e frases de efeito também pode ser uma excelente maneira de engajar as pessoas em sua campanha político-eleitoral.
Como criar a letra de um jingle político?
O jingle precisa “grudar” na cabeça do eleitor, de modo que ele não se esqueça do seu nome e muito menos do número em que ele deverá votar nas próximas eleições. Por isso, algumas dicas são essenciais para criar um jingle político. Veja alguns segredos para ter sucesso na letra!
Escolha o ritmo de acordo com as preferências do público local
As pessoas tendem a assimilar melhor algo que faz parte do seu cotidiano. Por isso, uma das primeiras coisas a se fazer, antes mesmo da letra, é escolher um ritmo de acordo com as preferências do público local.
Por exemplo, a região centro-oeste do Brasil é berço de grandes duplas sertanejas e tem uma cultura que valoriza esse tipo de música, sendo algo presente no cotidiano das pessoas que ali vivem. Isso variará de uma região para outra, logo, é importante ter atenção ao que o público local mais aprecia em seu dia a dia.
Coloque na letra a repetição do nome e número do candidato
Como dissemos, o nome e o número do candidato devem estar inseridos na letra de tal maneira que as pessoas se lembrem deles na hora de votar. Uma tática essencial é trabalhar com as repetições. Já foi comprovado pela ciência que a repetição ajuda as pessoas a fixar informações com mais facilidade na memória.
Aproveite o ritmo e a sonoridade para inserir rimas, pois isso ajudará no fácil reconhecimento do jingle como pertencente a um determinado candidato. No entanto, tenha cuidado para não repetir apenas o número e o nome, pois o conceito da campanha pode se perder, sendo que essa não é a única intenção.
Aproveite o storytelling
O storytelling pode ser definido como a capacidade de contar histórias de maneira relevante. Para isso, são utilizados recursos audiovisuais junto com as palavras. A ideia é criar algo que tenha o poder de persuadir as pessoas que ouvem o conteúdo, cativando-as.
Por isso, não basta fazer um jingle no qual só se repetem palavras e números, como já dissemos. A canção precisa ter um propósito, contar uma história. Unir, por exemplo, feitos de candidatos que já foram eleitos ou utilizar a própria história de vida deles são duas opções que transmitem a imagem de um político acessível, que a população conhece.
Desenvolva uma letra fácil de cantar
Quando falamos para contar uma história, não estamos dizendo para fazer isso de forma engessada. Já imaginou utilizar o storytelling e colocar uma narrativa complexa no jingle? As pessoas terão dificuldade para assimilar o que foi dito.
Mais do que uma história e melodia perfeitas, a letra precisa ser fácil de cantar. Isso ajuda a viralizar o seu jingle e, consequentemente, o público o reconhecerá com mais facilidade.
Quer uma dica de como tornar isso mais acessível? Faça paródias com músicas famosas e, assim, as pessoas assimilarão com mais facilidade o que foi dito e ainda farão associações. Ou seja, sempre que elas ouvirem a música se lembrarão do que foi publicado na sua campanha.
Existem alguns jingles que podem servir como inspiração?
Sim, vários jingles políticos ficaram famosos e, mesmo anos após a sua veiculação nas mídias, ainda estão na lembrança e no imaginário de muitas pessoas. Eles podem e devem ser analisados por sua equipe de marketing, que deverá retirar elementos que possam ser trabalhados e garantir a sua vitória nas urnas.
Para que você se inspire, listamos alguns jingles que fizeram sucesso no Brasil. Siga conosco e confira!
Retrato do Velho
O ex-presidente Getúlio Vargas, em seu primeiro mandato, criou a lei que determina que o retrato do presidente da República seja fixado nas paredes das repartições públicas. Quando o presidente foi deposto, em 1945, no entanto, seu retrato foi retirado de todos os locais.
Em 1950, Getúlio concorreu novamente ao cargo de presidente e utilizou um samba composto pelo músico Francisco Alves como jingle. A música fazia alusão aos retratos retirados e dizia: “Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar. O sorriso do velhinho faz a gente trabalhar”.
Lula lá
Momento marcante da política brasileira, as eleições de 1989 permitiram que os brasileiros voltassem a escolher um presidente por meio de eleições diretas, algo que não ocorria desde o golpe militar de 1964. Dentro desse contexto, dois candidatos se tornaram populares e protagonizaram o segundo turno das eleições: Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e Fernando Collor, do PRN.
Apesar de Collor ter vencido nas urnas, até hoje o jingle “Lula lá” é lembrado pelas pessoas que vivenciaram a época. A canção, de letra simples, foi entoada por grandes nomes do cenário artístico e intelectual que apoiavam o candidato e trazia versos como:
Lula lá, é a gente junto
Lula lá, valeu a espera
Lula lá, meu primeiro voto
Pra fazer brilhar uma estrela.
O jingle de Lula ganhou tanta notoriedade que o político o utilizou novamente em outras candidaturas. Houve também uma nova versão, “Dilma lá”, em 2010, no pleito que elegeu Dilma Rousseff como presidente do Brasil.
Silvio Santos vem aí
Outro jingle que marcou as eleições de 1989 e até hoje é lembrado é o utilizado pelo apresentador e empresário Silvio Santos, que acabou sendo impedido de concorrer na reta final da campanha.
A letra era uma paródia da canção “Silvio Santos vem aí”, utilizada pelo apresentador na abertura de seus programas de TV. A paráfrase fazia questão de reforçar o número do candidato e dizia:
É o 26! É o 26!
Com o Silvio Santos, chegou a nossa vez!
Silvio Santos já chegou, e é o 26.
Gigante pela própria natureza
Juscelino Kubitschek foi o primeiro presidente civil desde Artur Bernardes a conseguir cumprir o seu mandato integralmente, entre 1956 e 1961. Em 1955, com a proposta de ser o presidente a promover o desenvolvimento do país em 5 anos — daí o lema “50 anos em 5” —, Kubitschek fez uma campanha com um jingle marcante de autoria de Miguel Gustavo, responsável pelos jingles de outros políticos, como João Goulart.
A letra da campanha era uma referência ao hino nacional brasileiro já no primeiro verso “gigante pela própria natureza” e ainda celebrava o candidato, ressaltando que Juscelino, “além de patriota, é o nosso irmão”. O jingle ainda destacava outras questões ligadas ao patriotismo, como na estrofe:
Aparece como estrela radiosa
Neste céu azul de anil
O seu nome é uma bandeira gloriosa
Pra salvar este Brasil.
La-la-lá Brizooola
Leonel Brizola foi um dos fundadores do PDT. Em sua primeira participação eleitoral após o exílio no qual ficou até 1979, ele foi eleito governador do Rio de Janeiro em 1981. A sua popularidade e força política o fizeram chegar em 1989 ao terceiro lugar na corrida presidencial, um pouco atrás de Lula, segundo colocado.
Apesar de não ter vencido, Brizola é até hoje lembrado pelo seu legado e carreira política, mas também pelo jingle da sua campanha. O motivo? A letra era bem fácil de ser decorada, basicamente “La-la-lá Brizooola”. Isso fez com que as pessoas guardassem com mais facilidade a combinação da última sílaba com o nome do candidato.
Tá na sua mão, na minha mão, na mão da gente
Militante do movimento Diretas Já, Fernando Henrique Cardoso, antes de se tornar presidente, se destacou no governo de Itamar Franco, do qual foi ministro das Relações Exteriores e depois da Fazenda. Ele foi o responsável por implantar o Plano Real, iniciando um trabalho de solucionar a economia inflacionada do país.
Nesse caminho, ele deixou o seu cargo para concorrer ao posto de presidente do país. Com o apoio do então presidente Itamar Franco, FHC acabou sendo eleito ainda em primeiro turno.
O jingle da campanha fez uma aproximação de culturas típicas nordestinas, sendo a versão principal cantada por Dominguinhos, com letra criada por Nizan Guanaes. O interessante está justamente em trabalhar com raízes dos eleitores e a importância deles na decisão para que se identifiquem com o jingle.
Tá na sua mão, na minha mão, na mão da gente
Fazer de Fernando Henrique nosso presidente
Tá na sua mão, na minha mão, na mão da gente.
Um democrata cristão
José Maria Eymael é um nome conhecido na política. Em 1985, ele concorreu como candidato a prefeito em São Paulo, no qual popularizou o jingle que até hoje é utilizado por ele. Em 1986, ele foi deputado e trabalhou em uma série de propostas aprovadas pela constituinte, como a jornada semanal de trabalho de 44 horas.
Apesar de ter tentando outra vez o cargo de prefeito e perdido, Eymael fundou o partido PSDC, com o objetivo de defender “a família e seus valores” e passou a disputar a cadeira presidencial desde 1998. Criado pelo alfaiate e compositor José Raimundo de Castro, o jingle de Eymael foi embasado em duas premissas: fazer as pessoas aprenderem a pronunciar o nome do candidato e ressaltar os valores defendidos por ele.
Não é à toa que a música ganhou forte apelo popular. Quem nunca ouviu o trecho?
Ey, Ey, Eymael
Um democrata cristão
Pra presidente, é 27, e o nome é Eymael
Pela família e pela nação
Independentemente do seu partido político e da sua postura ideológica, você pode se inspirar nos exemplos que trouxemos e compor o seu jingle político, que, com certeza, fará você conquistar muitos votos.
Para isso, é preciso criar uma letra marcante, mas também saber como engajar os eleitores. Aliás, falando em engajamento, baixe o nosso e-book: “As melhores práticas para engajar eleitores“!